Todo designer, em algum momento, já teve aquela sensação: “eu faria melhor visualmente”. E eu já fui assim também.
Mas, se tem algo que aprendi ao longo da minha trajetória, é que esse tipo de pensamento é raso demais. Bonito ou feio é a ponta do iceberg — o que realmente importa está submerso: estratégia, contexto e posicionamento.
Quando vi o rebranding da Jaguar, confesso que minha primeira reação foi achar estranho. “Será que essa mudança faz sentido?”, me perguntei. Mas aí resolvi analisar mais a fundo.
E trouxe um pouco dessa reflexão pra você.
Pense comigo: qual foi a última vez que você pensou em um carro da Jaguar? Viu um comercial? Desejou um modelo da marca? Para ser bem honesta, acho que já faz um tempo.
A Jaguar, que um dia foi sinônimo de luxo britânico, vinha enfrentando algo maior. A marca estava perdendo mercado e caindo no esquecimento.
Tradicionalidade é um luxo de quem fatura alto, e a Jaguar já não podia se dar esse luxo.
Em 2008, ela foi comprada pela Tata Motors, uma gigante indiana focada em resultados. A marca não precisava mais de nostalgia; precisava recuperar o espaço perdido, vender mais e reconectar com o mercado.
O que aconteceu, então? Foi necessário tomar decisões ousadas. Mais do que reposicionar a marca, eles quebraram com a lembrança do que a Jaguar foi no passado. Porque, sejamos sinceros, essa memória já não estava mantendo a marca de pé.
Quem está preocupado com a perda da "essência" da Jaguar deveria se perguntar também: onde estava esse público apaixonado colocando dinheiro? Comprando carros? Criando conversa? Mantendo a marca relevante?
Eles aprenderam com setores em crescimento, como a moda, e olharam para além do mercado automotivo (que já não oferece mais tantas margens de manobra). E o visual? Ele é apenas 20% da história. Os outros 80% estão na estratégia.
Claro, dá pra apontar problemas. O vídeo da campanha, por exemplo, é conceitual demais, subjetivo demais. A tipografia, fora de contexto, parece fraca. Mas será que, aplicada nos carros ou em campanhas certas, ela funciona? Ainda não sabemos.
Fora que ainda é cedo para afirmar que este é o rebranding completo, já que pontos de contato fundamentais, como o próprio site da marca, ainda não foram atualizados.
O ponto é: discutir design como se fosse apenas estética mantém marcas na superfície. E isso é perigoso. É exatamente essa camada rasa que faz empresas disputarem preço, não criarem comunidade e entregarem mensagens genéricas.
Design não é sobre “fazer bonito”. É sobre configurar um contexto, ressignificar percepções e garantir que a experiência entregue algo único. É sobre fazer o cliente sentir que aquela marca tem um espaço claro na vida dele.
E essa lição da Jaguar vai muito além do mercado automotivo. Ela é um lembrete de que marcas precisam de profundidade. Porque quem fica na superfície, inevitavelmente, afunda.
Branding quote
"Tradition is a guide, not a jailer."
– W. Somerset Maugham
Extra curricular
Se você ainda não viu o vídeo da nova campanha da Jaguar, recomendo dar uma olhada. É sempre interessante analisar como grandes marcas estão se comunicando, especialmente em reposicionamentos tão ousados quanto esse.
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Ótima semana.